Samoiedo
Ficha Técnica
História do Samoiedo
O afável pastor do Ártico
Esta é uma raça milenar. Originária da Sibéria, foi criada pelas tribos nómadas samoyed. Estas tribos mantiveram sempre uma relação muito forte com os seus cães, treinando-os sem recurso a métodos aversivos e partilhando com eles os seus alimentos e as suas próprias casas (conhecidas como chooms). Muitas vezes chegavam até a partilhar a mesma cama, uma vez que estes cães podiam servir como um verdadeiro aquecedor.
Os samoyed tinham cães com diferentes colorações na zona mais a sul da Sibéria, que serviam para pastorear renas, e tinham cães brancos na zona mais a norte, que eram conhecidos por serem mais amigáveis e que serviam não só para o pastoreio de renas, como para a caça e para a tracção de trenós. A estes últimos os samoyed chamavam bjelkier, que significa... “cão branco que se reproduz branco”.
Os exemplares adultos, fortes e saudáveis assumiam funções mais pesadas, designadamente a tracção de trenós e a participação na caça. Os exemplares adultos, não tão fortes mas igualmente saudáveis, participavam na condução dos rebanhos de renas. Estes terão sido dos primeiros cães pastor a existir. Finalmente, os exemplares mais velhos, doentes ou as cadelas grávidas, não participavam em qualquer actividade, o que comprova bem a dignidade com que estes cães eram tratados.
Quando, no decorrer do século XVIII, os russos começaram a explorar a Sibéria, contactaram com várias tribos e com os diferentes cães de tipo spitz que as acompanhavam. Desde logo, maravilharam-se com o Samoiedo e, rapidamente, a família do Czar adquiriu vários exemplares, ao mesmo tempo que proibiu a sua exportação. A única excepção que permitia que fossem enviados Samoiedos para o estrangeiro era quando a família imperial russa oferecia um exemplar a uma determinada família aristocrata europeia.
No entanto, em pouco tempo, os exploradores e os cobradores de impostos descobriram a incrível capacidade dos bjelkiers para puxarem trenós. Esta descoberta acabou por se mostrar negativa para o Samoiedo, uma vez que as condições com que acompanhavam os exploradores nas suas expedições eram muito cruéis. Como não conheciam as características da raça, os exploradores adoptavam práticas potencialmente fatais, como a de cortar o pêlo da cauda, o qual é fundamental para que estes cães possam proteger o focinho enquanto dormem. Muitos exemplares morreram de pneumonia devido a esta prática.
Um destes exploradores foi Fridtjof Nansen, histórico cientista e descobridor norueguês, conhecido por ter sido o primeiro homem a atravessar a Gronelândia e aquele que, até finais do século XIX, mais se aproximou do Polo Norte. Nas suas longas expedições, Nansen transportava o mínimo de mantimentos possível, sacrificando os cães que puxavam os trenós ao ponto de, para os alimentar, abater os mais débeis para alimentar os mais fortes e, em caso de necessidade, os próprios exploradores. Esta prática, abjecta aos dias de hoje, era, à época, compreendida e aceite. Nansen viria a receber o prémio Nobel da Paz em 1922, devido ao facto de, enquanto responsável da Liga das Nações pelo repatriamento dos deportados, ter criado o Passaporte Nansen, que possibilitou a 450 000 prisioneiros regressar aos seus países de origem. Nansen teve ainda um papel louvável enquanto responsável da ajuda alimentar da Cruz Vermelha para as regiões soviéticas do rio Volga e do sul da Ucrânia.
Roald Amundsen, outro famoso explorador norueguês, cujo principal feito foi ter sido o líder da primeira expedição a chegar ao Pólo Sul, em Dezembro de 1911, também utilizou cães trenó para alcançar os seus objectivos. Entre estes cães, aquele que liderava o grupo na sua principal expedição era, precisamente, um Samoiedo.
As façanhas do Samoiedo no Polo Norte e no Polo Sul tornaram-no cada vez mais conhecido entre os exploradores e aventureiros. Entre estes exploradores estava Ernest Kilburn-Scott, zoólogo inglês e membro da Royal Zoological Society. Kilburn-Scott destacou-se por ter sido o principal responsável pela divulgação dos bjelkiers no mundo ocidental.
Quando estava na região de Arkhangelsk, na Rússia, Kilburn-Scott conviveu com as tribos locais e apaixonou-se por um cachorro bjelkier que estava destinado a um sacrifício religioso. Após difíceis negociações, convenceu o chefe da tribo a trocar o cão pelo seu trenó e por parte das roupas que levava, obrigando-o a regressar a pé e a carregar o cachorro às costas até ao local onde tinha o seu acampamento. Baptizou este cachorro de Sabarka, palavra russa que significa “o mais gordo”.
Após passar três meses entre as tribos Samoiedas, Kilburn-Scott introduziu o Samoiedo no Reino Unido, juntamente com a sua mulher, em 1889. Sabarka viria a ser o primeiro Samoiedo a chegar ao Reino Unido e, nos anos seguintes, o casal Kilburn-Scott adquiriu mais exemplares e deu início à criação da raça, estudando e classificando-a de forma a estabelecer um padrão e a divulgá-la em inúmeras exposições. Este casal viria, então, a fundar o Samoyede Club – a mais antiga organização dedicada à raça.
A sua luxuriante pelagem branca maravilhou as classes aristocráticas europeias, como foi o caso da rainha do Reino Unido, Alexandra da Dinamarca. Apesar da política de homogeneização cultural que se iniciou com a Revolução Russa, em 1917, que levou a que várias tribos, designadamente as tribos nómadas samoyed, perdessem a sua identidade, os Samoiedos mantiveram as suas características enquanto raça, uma vez que já se haviam espalhado pela Europa antes da tomada do poder por parte dos bolcheviques.
Com o passar dos tempos, foram criadas duas versões da raça um pouco diferentes entre si, uma inglesa, outra norte-americana. Os ingleses focaram-se mais na componente estética e temperamental, fazendo da raça essencialmente um cão de companhia. Já os norte-americanos focaram-se mais na vertente de trabalho, privilegiando a componente funcional relativamente à componente estética.
Actualmente, o Samoiedo é tido como, sobretudo, cão de companhia. As razões para isso são essencialmente duas: a primeira prende-se com o facto de as suas magníficas qualidades como cão pastor de renas terem perdido utilidade, uma vez que esta actividade deixou de ter o interesse económico que outrora teve; a segunda está relacionada com o melhor desempenho que o Husky Siberiano e o Malamute do Alasca conseguem ao nível da tracção de trenós, pese embora a aptidão do Samoeido para esta actividade.
Contudo, o futuro do Samoiedo está assegurado, uma vez que possui uma enorme popularidade graças à sua inegável beleza e ao seu afável temperamento, levando a que tenha uma legião de fãs e que seja um dos habituais participantes nas exposições caninas.
Temperamento do Samoiedo
Tão afável, quanto independente
Um dos aspectos fundamentais que as tribos samoyed privilegiavam na sua criação era a amabilidade, uma vez que os seus cães eram vistos como membros da família, chegando mesmo a dormir com os seus donos nas noites gélidas da Sibéria. Esta ligação com a família faz com que o Samoiedo não aceite ficar isolado, desenvolvendo comportamentos destrutivos (como roer ou escavar) no caso de ser confrontado com essa situação.
Podemos destacar cinco características positivas do Samoiedo: inteligente; afectuoso; calmo; sociável; e confiante. Relativamente à primeira, a inteligência aliada à resistência faz com que, ainda hoje, o Samoiedo acompanhe exploradores nas suas incursões pelo Ártico e pelo Antártico. Por outro lado, o carácter independente leva a que, apesar da sua inteligência, o Samoiedo não seja fácil de treinar, mostrando uma teimosia que... deverá merecer uma especial atenção por parte dos seus donos. Esta dificuldade ao nível do treino é transversal à maioria das raças de tipo spitz.
Relativamente à segunda característica, devemos realçar que o Samoiedo é historicamente um excelente cão de família, desde logo pela sua capacidade para cultivar uma boa relação com as crianças. Ainda assim, o caracter afectuoso do Samoiedo não nos pode distrair de algumas necessidades fundamentais da raça, designadamente ao nível da estimulação física e psicológica. Esta não é uma raça para passar o dia inteiro no sofá.
Relativamente às terceira e quarta características, fazem com que, no seu conjunto, esta seja uma raça que dificilmente adopte comportamentos agressivos, razão pela qual não constitui um bom cão de guarda. Ainda assim, como tem uma certa tendência para ladrar, pode dar um bom cão de alerta. Assim como acontece com as suas aptidões como cão de guarda, também as suas aptidões como cão de caça são bastante modestas.
Finalmente, no que concerne à quinta característica, esta torna o Samoiedo numa companhia estável. É a confiança, aliada ao carácter independente, que torna o Samoiedo um excelente cão pastor.
Saúde do Samoiedo
Em termos gerais, o Samoiedo é uma raça saudável, no entanto existem algumas doenças que o podem afectar. Desde logo, destacamos um problema hereditário que tem implicações ao nível dos rins. Este problema é causado por um defeito genético do cromossoma X, afectando essencialmente os machos, já que as fêmeas têm dois cromossomas X, o que suaviza o seu impacto.
Também podem ocorrer problemas oftalmológicos, designadamente o glaucoma e as cataratas. Relativamente ao primeiro, caracteriza-se por um aumento da pressão intraocular, podendo levar à perda de visão. Relativamente ao segundo, que pode igualmente levar à cegueira, ocorre quando a lente natural do olho, designada por cristalino, perde a transparência e se torna opaca, prejudicando a passagem da luz.
A... displasia da anca também pode afectar o Samoiedo. Esta doença tem um carácter genético e afecta a articulação coxofemoral, sendo o problema osteoarticular que mais afecta os cães, principalmente os de grande porte.
Refira-se, ainda, a possibilidade de ocorrerem problemas cardíacos, designadamente a estenose pulmonar. Este problema caracteriza-se por uma obstrução anatómica do fluxo sanguíneo do ventrículo direito do coração para a artéria pulmonar.
Finalmente, interessa sublinhar os cuidados que a pelagem comprida e luxuriante do bjelkier exige. A sua natural capacidade para lidar com baixas temperaturas advém, essencialmente, da suave camada de subpêlo que lhe permite isolar o frio. Esta camada muda entre uma a duas vezes por ano, sendo que nestas fases uma grande quantidade de pêlo cai. Por isso, é fundamental dar uma escovagem diária durante estes períodos.
Interessa salientar que, mesmo fora destes períodos, existem cuidados a ter, uma vez que o Samoiedo larga pêlo durante todo o ano, sendo sempre necessária uma escovagem com uma regularidade de, no mínimo, duas vezes por semana.
Esta raça não deve ser tosquiada, uma vez que o seu pêlo reflecte os raios solares, protegendo a sua pele. Sem a protecção do pêlo, o Samoiedo pode ficar com queimaduras solares, que podem provocar cancro de pele.
Aparência Física do Samoiedo
- Orelhas pequenas e largas na base
- Olhos escuros e profundos, contrastando com o pelo branco
- Peito largo, profundo e longo, e costelas bem arqueadas
- Patas grandes e achatadas
- Membros traseiros muito musculados
- Cauda muito longa e curvada sobre o dorso
Características do Samoiedo
Curiosidades
A pronúncia correcta para o nome desta raça é ”sammy-yed”, e não samoy-yed (ou samoy-yedo). Isto acontece porque na língua nativa das tribos que a criaram não existe o som “oy”. É por isso que os fãs do Samoiedo lhe chamam, carinhosamente, “sammy”.
Assim, se ouvirmos a famosa expressão “sorriso de sammy”, já sabemos de onde vem. Esta expressão surge da combinação entre a forma e a posição dos seus olhos com os cantos da sua boca ligeiramente curvados para cima. Não surpreende, por isso, que muitas pessoas se refiram ao Samoiedo como o “cão que ri”.