Bichon Frisé
Ficha Técnica
História do Bichon Frisé
Entre a aristocracia e a plebe
O Bichon Frisé integra o grupo de pequenos cães brancos conhecido como Barbichon, que integra ainda o Bichon Maltês, o Bichon Havanês, o Bichon Bolonhês e o Coton de Tulear.
A origem do Bichon Frisé é alvo de alguma controvérsia. Existem registos históricos do século XIII que indicam que pequenos cães brancos de pêlo longo eram dados como presente um pouco por toda a Europa, principalmente entre a nobreza italiana, francesa e espanhola. Olhando para estes registos e para outros que foram feitos posteriormente, a origem destes cães deverá ser de algum país mediterrânico, provavelmente de Itália.
Um dado quase adquirido é de que grande parte do desenvolvimento do Bichon Frisé ocorreu na ilha de Tenerife, a maior do arquipélago espanhol das Canárias. Estes pequenos cães brancos que a... nobreza espanhola apreciava foram levados por marinheiros canarienses para Tenerife, provavelmente no início do século XIV, e, durante vários anos, a sua evolução teve um percurso particular.
Este apuramento que ocorreu em Tenerife levou ao surgimento de uma nova raça, conhecida como Bichon de Tenerife. Foi então que, provavelmente nos finais do século XIV, o Bichon de Tenerife foi levado por marinheiros italianos para a sua terra natal, tornando-se altamente popular entre a aristocracia daquele país. A sua popularidade estendeu-se por boa parte da Europa continental, chegando mesmo a ser utilizado como moeda de troca pelos marinheiros, dado o valor que lhe era atribuído.
Foi durante o Renascimento que o Bichon de Tenerife alcançou o seu período de maior esplendor. No século XV, não só estava presente entre muitas famílias aristocráticas, como entre algumas famílias reais. Já no século XVI, foi acolhido na corte do Rei francês Francisco I, que reinou entre 1515 e 1547, e que ficou conhecido por ter sido o patrono do renascimento em França.
Mas foi durante o reinado de Henrique III de França, entre 1574 e 1589 (ano em que foi assassinado), que foi também Rei da Polónia e Grão-Duque da Lituânia, entre 1573 e 1575, que o Bichon de Tenerife passou a ser considerado o cão da corte. Henrique III fazia-se acompanhar por um exemplar da sua raça preferida para todo o lado, gastando quantias muito elevadas para o bem-estar e conforto dos seus bichons, o que causou alguma polémica no seio da corte. A forma como eram tratados poderá estar na origem do verbo francês bichonner, que significa “mimar” ou “enfeitar”.
Nos séculos XVI, XVII e XVIII o Bichon era uma presença normal nas cortes europeias. Durante este período, a raça foi sendo apurada através de cruzamentos com outras raças, designadamente com o Bichon Maltês e com o Caniche, com os quais tem uma ligação genealógica e uma semelhança estética evidente.
O período áureo do Bichon iniciou a sua queda com a Revolução Francesa, em 1789. Os dias de estrelato, pompa e conforto foram acabando à medida que os seus donos aristocratas iam presos, muitos dos quais acabando na guilhotina. Durante o reinado do Rei francês Napoleão III, ocorrido entre 1852 e 1870, o prestígio do Bichon entre as cortes europeias praticamente desapareceu.
Abandonados na rua, os Bichons foram sendo acolhidos e cuidados pelas pessoas do povo. Passou a ser comum ver-se estes cães a acompanharem os amoladores e os artistas de rua, que rapidamente perceberam o potencial de aprendizagem do Bichon e aproveitaram-no para o ensinar a fazer truques que maravilhavam as pessoas que passavam na rua, conseguindo com isso que muitas delas lhes dessem uma moeda. Rapidamente, o Bichon ganhou estatuto como artista de circo. Com a sua inteligência, agilidade e beleza conquistava facilmente o público.
A primeira metade do século XX trouxe novamente dificuldades. As duas Grandes Guerras tiveram um impacto muito significativo na economia, o que foi negativo para o Bichon e para grande parte das raças. No caso específico do Bichon, a Primeira Guerra Mundial chegou mesmo a ser dramática, uma que vez que o número de exemplares ficou num nível próximo da extinção. Foi graças a alguns criadores franceses e belgas que esta raça se salvou. Estes criadores apanhavam os Bichons que encontravam na rua e, assim, salvaguardaram a sua sobrevivência.
A Société Centrale Canine, o grande clube de canicultura francês, reconheceu a raça em 1933, contribuindo depois para a sua internacionalização. Foi no momento do seu reconhecimento que se definiu o nome da raça como Bichon a Poil Frisé (Bichon de pêlo encaracolado), apesar de ser conhecido na maior parte dos países apenas como Bichon Frisé. O baptismo da raça levou em consideração o facto de terem sido os franceses e os belgas a salvá-la e a apurá-la, através das suas competências de criação.
A partir dos anos setenta do século passado, o número de exemplares de Bichon Frisé cresceu significativamente, graças à sua crescente popularidade. Já nos anos noventa, alguns exemplares na Noruega e na Islândia foram usados para recolher ovelhas com relativo sucesso.
Actualmente, os principais criadores desta raça estão precisamente em França e na Bélgica.
Temperamento do Bichon Frisé
Um animal (muito) social
Excelente cão de companhia, o Bichon Frisé atrai a atenção de muitas pessoas pela sua movimentação elegante, pela estética que o pêlo totalmente branco lhe confere e pela sua graciosidade natural. Esta é uma raça que adora brincar, afectuosa, inteligente e sensível. Tem um temperamento muito equilibrado, o que faz dela um óptimo cão de família, dando-se muito bem com crianças.
Sendo atento e curioso, o Bichon pode dar um bom cão de alerta, uma vez que tem tendência para ladrar quando sente a presença de algum estranho. Os donos têm que ter cuidado para que esta tendência não se transforme num problema, uma vez que ter um cão que ladre excessivamente é mau para eles e para os seus vizinhos.
No entanto, interessa realçar que o Bichon é um cão muito... afectuoso, inclusivamente com estranhos, pelo que o seu ladrar serve apenas para dar o sinal, não sendo nunca seguido de um comportamento hostil ou agressivo. Aliás, esta raça destaca-se pela forma alegre como recebe as visitas, mesmo que não tenham sido convidadas, o que significa que jamais poderá actuar como cão de guarda.
Ao alto grau de sociabilidade com humanos, junta-se um alto grau de sociabilidade com outros cães e, até, com diferentes tipos de animais domésticos. Ainda assim, é importante que se proporcione muitos momentos de socialização desde tenra idade, como acontece com qualquer cão, independentemente da raça, por forma a garantir que se saiba relacionar com estranhos (sejam pessoas ou cães) de forma equilibrada.
O temperamento equilibrado e a personalidade amistosa do Bichon Frisé fazem com que seja um bom cão de terapia, conseguindo estimular os doentes através da sua capacidade de se relacionar com eles.
Se juntarmos todas as características aqui descritas ao pequeno tamanho do Bichon, concluímos que é um cão que se adapta na perfeição à vida num apartamento e num meio urbano. Contudo, é fundamental levar em consideração que tem muita energia para gastar, precisando de fazer bons passeios. A sua aparência inofensiva tende a esconder o seu potencial atlético. Não é por acaso que o Bichon tem aparecido em competições desportivas caninas, nomeadamente no agility e no flyball.
Dada a sua energia e inteligência, caso não seja devidamente estimulado, irá chamar a atenção dos donos de todas as formas, mesmo que não sejam do agrado destes. Isto significa que esta é uma raça que exige muita presença por parte dos donos, uma vez que lida especialmente mal com a solidão.
Como com qualquer cão, deve-se investir bastante tempo na educação. No caso do Bichon Frisé, esta tarefa fica facilitada pela sua inteligência e vontade de aprender. Todavia, importa salientar que uma abordagem mais ríspida durante o treino será contraprodutiva, em virtude de esta ser uma raça muito sensível.
Saúde do Bichon Frisé
Genericamente, o Bichon Frisé é uma raça saudável, no entanto, como acontece com qualquer outra raça, é fundamental, para quem deseja ter um exemplar, contactar um criador bem referenciado.
A luxação na patela (ou luxação patelar, ou, ainda, luxação da rótula) é um dos problemas a que é preciso estar atento, uma vez que costuma ser hereditário. Como o Bichon é bastante activo, este problema terá um enorme impacto negativo no seu bem-estar.
As doenças oculares também podem afectar a raça, principalmente as cataratas. Estas podem ser unilaterais, caso aconteçam apenas num dos olhos, ou bilaterais, caso aconteçam em ambos os olhos. As cataratas caracterizam-se pela opacificação da lente, ou cristalino, impedindo a passagem da luz até à retina, cuja função é a percepção das imagens. A consequência desta doença é a... perda da capacidade visual, podendo mesmo levar à cegueira. Alguns estudos apontam para que 11% dos exemplares da raça tenham este problema, pelo que é importante estar atento.
As alergias também podem ocorrer, sendo relativamente normais em raças com uma pelagem branca. O facto de o Bichon ter uma pele com menos pigmentação e mais rosada, confere-lhe menos protecção relativamente a outras raças com mais pigmentação.
Outra doença a que é preciso estar atento é a urolitíase. Esta doença é uma desordem do trato urinário que se caracteriza pela acumulação de cristais e pelo aparecimento de urólitos, como o fosfato de magnésio e o oxalato de cálcio. Uma excelente forma de prevenir este problema é providenciar água fresca e limpa, garantindo uma hidratação adequada.
Existem mais dois problemas que surgem com alguma regularidade nos Bichons. O primeiro relaciona-se com a perda precoce de dentes e com as infecções na gengiva. Por isso, a saúde oral deve ser levada muito a sério por parte dos donos, que devem escovar regularmente os dentes dos seus cães. O segundo relaciona-se com a propensão para as infecções nos ouvidos, designadamente as otites, uma vez que as orelhas do Bichon são compridas e pendentes, acumulando sujidade e criando um ambiente propício para o surgimento deste tipo de infecções. Por isso, limpar bem as orelhas e os ouvidos é uma prática imprescindível.
Existem três testes que todos os donos de Bichons devem fazer aos seus cães:
- Avaliação da patela
- Avaliação do quadril
- Avaliação oftalmológica
Finalmente, interessa salientar os cuidados que a bela e aveludada pelagem branca do Bichon exige, a qual tem a enorme vantagem de ser hipoalergénica, o que é um factor fundamental para todas as pessoas que têm alergia ao pêlo do cão. A pelagem do Bichon cresce de forma contínua, pelo que é necessário fazer uma tosquia regularmente. Para além disso, é importante fazer uma escovagem diária, ou de dois em dois dias, para evitar a formação de nós, para manter o pêlo limpo e para diminuir a probabilidade de parasitas externos, como a pulga, se alojarem debaixo do pêlo.
Concluímos com um último alerta: é preciso ter cuidado com a alimentação do Bichon Frisé, uma vez que tem tendência para engordar.
Aparência Física do Bichon Frisé
- Orelhas caídas e com muito pêlo
- Olhos redondos e escuros, com pálpebras escuras
- O nariz negro é rosa à nascença
- Peito profundo e bem desenvolvido
- Patas compactas e redondas
- Cauda pende sobre o lombo, sem fazer qualquer pressão
Características do Bichon Frisé
Curiosidades
Durante séculos, o Bichon foi muito popular entre a aristocracia europeia, particularmente nos países do sul da Europa, como Espanha. Em muitas pinturas vemos representados exemplares da raça, designadamente através da mão de um dos maiores pintores espanhóis (e do mundo) de sempre, Francisco Goya. Uma das suas mais conhecidas obras onde aparece um exemplar da raça é o retrato de la duquesa de Alba de blanco.