O que faz uma boa ração para cães e gatos? III
- Tópicos: Saúde
Uma das primeiras coisas em que temos de pensar quando trazemos um animal para casa, seja um cão, um gato ou qualquer outro, é qual a alimentação que lhe vamos dar. Uma parte muito importante do seu bem-estar e da sua saúde vai depender desta decisão, razão pela qual todos os donos devem estar bem informados sobre o tema.
Este é o último texto de uma série de três sobre o que faz uma boa ração para cães e gatos. No primeiro, abordámos o tema da legislação sobre a produção de ração, no segundo, as estratégias de marketing das empresas de produção de alimentação para animais e, finalmente, no terceiro e presente texto, debruçamo-nos sobre o significado nutricional dos ingredientes.
De pouco serve sabermos os ingredientes que compõem as rações dos nossos patudos se não tivermos noção do impacto nutricional que estes ingredientes têm na sua saúde e bem-estar. Vejamos, então, o essencial sobre esta questão.
Cães e gatos: qual o impacto nutricional dos ingredientes da sua alimentação?
Comecemos por analisar os ingredientes que são maus, ou desnecessários, para a alimentação dos nossos cães e gatos.
O termo “Carne e Derivados” está muito presente nos rótulos das rações. Serve para definir toda a carne e órgãos de animais de sangue quente abatidos num determinado matadouro, que podem ser vendidos frescos ou conservados através de um tratamento específico, bem como todos os produtos e derivados do processamento de partes da carcaça ou, mesmo, de toda a carcaça. Ou seja, a parte referente à carne terá um significado nutricional positivo, no entanto, a parte referente aos derivados terá um valor nutritivo muito fraco.
Por outro lado, os hidratos de carbono, e os cereais em particular, não são necessários para uma alimentação completa dos nossos patudos, sendo por isso facultativos. As fontes de energia de que eles necessitam estão presentes nas proteínas e nas gorduras.
Porém, os cereais acabam por estar presentes na grande maioria das rações, necessitando de passar por um processamento, uma vez que os cereais crus não são passíveis de serem digeridos. Se a proporção de cereais de uma determinada ração for excessiva, a sua qualidade deixará inevitavelmente muito a desejar. Isto acontece porque os cereais têm uma grande carência de aminoácidos essenciais e aumentam o índice glicémico, podendo levar a uma hiperglicemia (aumento de glicose no sangue) e, por consequência, ao surgimento de diabetes.
Ainda assim, existem alguns alimentos que têm um índice glicémico superior a muitos cereais, como é o caso da batata. Este tubérculo, apesar de ser de fácil digestão (desde que cozinhado ou processado) e de ter uma quantidade de fibra razoável, tem um índice glicémico superior ao arroz integral.
Substâncias nocivas para cães e gatos
Existe um conjunto de substâncias que devemos evitar dar aos nossos patudos, algumas das quais banidas da alimentação humana pelas normas europeias.
Relativamente a conservantes químicos, devem evitar-se os seguintes:
- Propilenoglicol (não permitido na alimentação de gatos);
- Propyl gallate;
- Octyl gallate;
- Dodecyl gallate;
- Butylated hydroxyanisole (BHA) –
- Potencialmente cancerígeno (banido da alimentação humana). A União Europeia regula os máximos permitidos;
- Butylated hydroxytoluene (BHT) –
- Potencialmente cancerígeno (banido da alimentação humana). A União Europeia regula os máximos permitidos;
- Ethoxyquina;
- Bissulfito de sódio;
- Metabissulfito de Sódio;
- Nitrito de Sódio.
Relativamente a corantes químicos, devem evitar-se os seguintes:
- Tartrazina;
- Amarelo Pôr do sol FCF;
- Azul Patente;
- Complexo clorofila-cobre;
- Cantaxantina.
Relativamente a Flavorizantes químicos, devem-se evitar:
- Neohesperidine dihydrochalcone.
Alimentos bons para cães e gatos
O cão é um mesocarnívoro, o que significa que, embora seja um carnívoro, devendo comer alimentos de origem animal, pode (e deve) ingerir alimentos como vegetais e frutas. Esta versatilidade da alimentação do cão leva-o também a ser considerado um omnívoro, como são, por exemplo, os seres humanos.
Já o gato é diferente. Este pertence à categoria dos hipercarnívoros, o que significa que deve comer quase exclusivamente alimentos de origem animal.
A carne é uma excelente fonte de proteína, tendo, naturalmente, um valor diferenciado consoante a origem animal de que estamos a falar. Por norma, o frango, o borrego e o veado têm uma maior digestibilidade para cães e gatos.
Quanto menos a carne for processada, maior será o seu valor biológico, ou seja, melhor será o rácio de aminoácidos.
Como já foi referido anteriormente, a proteína animal é uma fonte de energia privilegiada para cães e gatos, tendo o mesmo valor energético que os hidratos de carbono – 3,5Kcal/g.
O ovo é uma proteína animal com um valor biológico muito alto, contendo uma excelente proporção de aminoácidos. Quando damos ovo aos nossos cães e gatos, devemos dar também a casca, uma vez que esta contém cálcio, o que contribui para um rácio saudável na dieta entre cálcio e fósforo. O aumento crónico de fósforo relativamente ao cálcio pode conduzir a problemas hormonais, como o hiperparatireoidismo nutricional secundário, que faz com que os ossos fiquem mais frágeis e se partam com facilidade.
Este perigo do défice de cálcio relativamente ao fósforo acontece muitas vezes nas dietas caseiras, onde os donos, por ignorância, oferecem permanentemente aos seus cães carne desossada, arroz (ou batata) e legumes.
Os vegetais têm um papel importante, sobretudo na alimentação dos cães, devido ao facto de terem um valor nutricional elevado, actuando como um eficaz anti-inflamatório e contribuindo para o bom funcionamento do sistema intestinal, graças às fibras que contêm. São também uma óptima fonte de hidratos de carbono de baixo índice glicémico.
Para terminar, falemos das gorduras. Nem todas são más e existem, até, duas que são muito boas: óleo de salmão e óleo de arenque. Ambas têm grandes quantidades de ómega 3 e têm, ainda, uma quantidade interessante de ómega 6. Estas gorduras polinsaturadas oferecem vários benefícios, tais como o melhoramento da função cognitiva, a actuação como um anti-inflamatório ou o restabelecimento da barreia cutânea.
Com a leitura dos três textos sobre “O que faz uma boa ração para cães e gatos”, acreditamos que os leitores estão preparados para tomar uma decisão consciente e acertada relativamente à alimentação que providenciarão aos seus patudos. Neste contexto, vale sempre a pena recordar a frase de Hipócrates, considerado o “pai da medicina”: “que o teu alimento seja o teu medicamento”.
Nota: A segunda imagem deste texto foi tirada do site da Pet Info Alley.