Cada cão é único, tal como nós
A descoberta do ADN (ácido desoxirribonucleico) por parte do biólogo e físico suíço Friedrich Mieschera, em 1956, e a posterior descoberta por parte dos biólogos moleculares James Watson e Francis Crick, em 1953, de que a base física da informação genética está contida nos ácidos nucleicos, ou seja, no ADN, fez crescer brutalmente o nosso conhecimento sobre a evolução dos organismos vivos.
Graças aos avanços da genética, sabemos que cada cão, tal como cada ser humano, tem especificidades únicas, independentemente de poder partilhar com outros várias características.
O que a genética nos mostra
Quando comparamos raças diferentes, tal com o Bull Terrier, o São Bernardo, o Golden Retriever ou o Greyhound, podemos facilmente constatar que os genes responsáveis pelas características físicas são muito distintos.
Além das variações genéticas entre diferentes raças, existem também variações dentro de cada raça. Isto deve-se a vários factores. Um deles é o genótipo, que é uma parte da composição genética de um individuo e que determina uma das suas características. O genótipo é composto por dois alelos (genes), um herdado da mãe, outro do pai.
Se o genótipo que avaliarmos se referir, por exemplo, à cor dos olhos, caso ambos os progenitores tenham olhos azuis, os filhos terão também olhos azuis. Mas, no caso de cada um dos progenitores ter uma cor de olhos diferente, a cor dos olhos dos seus descendentes será definida pelo alelo dominante, que tanto pode ser o alelo paterno, como o materno.
Mesmo entre irmãos, as diferenças genéticas, sejam em que número forem, estarão sempre presentes. Isto explica-se, em grande parte, devido a um processo chamado meiose. Este processo tem como finalidade a produção de células gameta, que são as células sexuais. Nas fêmeas, estas células são os óvulos, e nos machos, são os espermatozóides. Cada uma destas células é única, ou seja, não existem dois óvulos iguais, nem dois espermatozóides iguais.
Quando um óvulo e um espermatozóide se fundam, dá-se origem ao processo de fecundação. Este processo irá formar um novo genoma e, por consequência, dará origem a um novo individuo com especificidades únicas. O genoma contém toda a informação hereditária de um organismo, a qual está codificada no seu ADN.
Através destes mecanismos biológicos conseguimos perceber de forma rigorosa a razão pela qual podemos afirmar que cada cão, independentemente de pertencer a uma determinada raça ou à mesma ninhada, é único.
Herança genética
A herança genética, que define o ADN de cada cão, afecta não só a sua aparência, como também outras dimensões, tais como o seu temperamento, a sua tendência para ficar ansioso e para desenvolver problemas de saúde, inclusivamente doenças físicas e psicológicas.
Isto significa que o comportamento do cão é determinado por dois factores fundamentais, a herança genética, por um lado, e o ambiente que o rodeia, por outro lado. O factor ambiental engloba todas as experiências vividas pelo cão.
A compreensão de todos estes mecanismos deve-nos, necessariamente, levar a ter muito cuidado quando fazemos generalizações relativamente ao comportamento de indivíduos que pertencem a uma raça em específico ou que se desenvolveram numa determinada região, durante muitos anos (landrace).
Partir do pressuposto de que um cão, por pertencer à raça x ou y, terá um comportamento mais agressivo ou complicado, ou que, pelo contrário, terá um comportamento mais sociável ou afável, poderá, facilmente, levar a uma avaliação enviesada.