Cão herói ( IV ): pickles, o cão que ficou na história do futebol
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O campeonato do mundo de 1966, organizado e ganho pela Inglaterra, e no qual Portugal alcançou a terceira posição (a melhor, até ao momento), foi um dos eventos que mais marcou a História do futebol. E, como não podia deixar de ser, até no desporto rei os nossos amigos de quatro patas deixam a sua marca. Esperemos que gostem do quarto texto da rúbrica “Cão Herói”.
No dia 27 de Março de 1966, David Corbett, um funcionário dos correios britânico, saiu de casa para se deslocar a uma cabine telefónica para falar com o seu irmão que estava prestes a ser pai.
Ao sair da cabine, chamou pelo seu cão, que o havia acompanhado naquela curta caminhada. Ao ver que Pickles, um rafeiro com quatro anos de idade, não respondia à chamada, David dirigiu-se até ele. Encontrou-o a cheirar atentamente um embrulho de jornal e procurou perceber que espécie de objecto estava ali. Quando vê as inscrições do Uruguai, Brasil e Alemanha (alguns dos vencedores, até então, do Mundial de Futebol), David ficou petrificado. Uma semana antes, a Taça Jules Rimet (nome dado ao troféu dos mundiais de futebol entre 1930 e 1970) havia sido roubada da Westminster Central Hall – um edifício situado ao lado do parlamento britânico e que alberga uma igreja metodista, uma sala de conferências, um centro exposições, uma galeria de arte e, ainda, alguns escritórios.
Este desaparecimento envergonhava as autoridades inglesas e deixava incrédulos todos os amantes de futebol. A Scotland Yard fazia tudo o que podia para encontrar o troféu e estava sobre uma grande pressão porque, dentro de quatro meses, soaria o apito para o pontapé de saída do Mundial de Futebol.
Apesar dos esforços das forças policiais, de todos os meios e recursos envolvidos e dos anúncios de avultadas recompensas monetárias para quem encontrasse a taça, foi Pickles quem resolveu o problema. O ladrão que tinha roubado a taça, assustado com a dimensão mediática que aquele furto tinha atingido, deixou a taça embrulhada em papel de jornal no meio de uns arbustos.
De um dia para o outro, Pickles tornou-se num herói conhecido em todo o mundo. Ainda hoje, custa a David Corbett reviver esta história. O seu cão tornou-se numa super star, participando em programas de televisão, aparecendo em vários jornais e tendo comida gratuita para toda a vida. Durante anos, o telefone de David não parou de tocar, tendo sido convidado para ir ao Brasil, Chile, Checoslováquia, Alemanha, entre outros países. Este mediatismo desgastou David e ainda ainda mais Pickles, que chegou mesmo a ficar doente.
Apenas um ano após este acontecimento, Pickles viria a morrer de uma forma trágica. Ao ver um gato na rua, Pickles disparou bruscamente na sua direcção, fazendo com que a trela escapasse das mãos do filho de David, que o estava a passear. O cão tentou trepar a uma árvore para alcançar o gato mas a trela acabou por ficar presa num ramo, levando-o a morrer sufocado.
David enterrou-o no quintal de sua casa e conta que, passados todos estes anos e por mais absurdo que pareça, algumas pessoas ainda lhe ligam a perguntar se o seu cão é vivo.
Como é apanágio dos heróis, Pickles morreu novo e viveu intensamente cada um dos seus dias.
As fotofrafias deste texto foram tiradas de um artigo da BBC e de um artigo da Mashable.