E se os cães pudessem ajudar na luta contra o coronavírus
No Reino Unido, onde há tradicionalmente uma ligação forte aos nossos amigos de quatro patas, um conjunto de organismos está a trabalhar em colaboração com o objectivo de treinar cães para detectarem, através do olfacto, pessoas infectadas com o novo coronavírus. Ao que tudo indica, este objectivo é alcançável e o melhor amigo do homem poderá, uma vez mais, ser o nosso maior aliado numa luta à escala planetária.
Os cães como parte da solução no combate ao novo coronavírus
Como explicámos no artigo anterior publicado no blog do Cão Nosso, tudo indica que os cães não são uma preocupação quer na contracção do vírus, quer na sua disseminação. O artigo que agora publicamos vem demonstrar que, para além de não serem um problema, os cães podem até ser parte da solução no combate ao novo coronavírus.
Ao longo da História, os cães foram parceiros fundamentais para o Homem. Quando se diz que eles são os nossos melhores amigos, isso é verdade. Sem querer ir muito longe, olhemos para os dois grandes acontecimentos do século XX: a I Guerra Mundial e a II Guerra Mundial. Em ambas as Grandes Guerras foram utilizados cães que desempenharam um papel muito importante, alguns deles ao ponto de serem homenageados e condecorados pelos seus países. O caso de Smoky, uma cadela da raça Yorkshire Terrier, é um bom exemplo.
Agora, no combate global contra o novo coronavírus, os nossos companheiros de quatro patas estarão, uma vez mais, ao nosso lado. É esta a essência mágica e exclusiva do cão: venha o que vier, estará sempre do nosso lado.
Cães que detectam doenças
No Reino Unido, em 2008, foi fundada a Medical Detection Dogs, uma organização sem fins lucrativos que se dedica ao treino de cães para detectarem, através do olfacto, o odor de várias doenças que afectam milhões de pessoas em todo o mundo. Entre estas doenças, destaca-se o cancro, a malária e o Parkinson.
Os cães treinados por esta organização – que é inteiramente financiada por doações de pessoas singulares e empresas, não recebendo apoio do Estado britânico –, são capazes de detectar ligeiras transformações no odor de um indivíduo, desencadeadas por uma determinada doença. Muitas vezes, estes cães alertam o doente para uma crise de saúde iminente. Veja-se o que acontece no caso da diabetes, onde um cão treinado alerta o seu dono atempadamente em relação aos picos de insulina.
Os cães podem detectar a COVID-19?
A Medical Detection Dogs publicou vários artigos científicos que mostram que cada doença tem o seu odor, presumindo, por isso, que o mesmo se passará com a Covid-19. Neste contexto, esta organização, juntamente com a London School of Hygiene & Tropical Medicine e a Universidade de Durham, está a treinar um conjunto de cães para detectar a presença do novo coronavírus no ser humano.
O método utilizado é o mesmo do que foi usado para detectar doenças como o cancro, Parkinson ou infecções bacterianas: reunir os cães numa sala de treino específica para lhes apresentar o cheiro de amostras que contenham o novo coronavírus, e, posteriormente, apurar a sua capacidade para sinalizar, no meio de diferentes tipos de amostras, as que contêm o novo coronavírus.
Para além disto, como estes cães são capazes de detectar ligeiras mudanças na temperatura da pele, são também capazes de sinalizar quando alguma pessoa está com febre.
A CEO e co-fundadora da Medical Detection Dogs, Claire Guest, mostra-se optimista quanto a este projecto, acreditando que “os cães podem detectar estar doença” e que isso “garantirá que os recursos limitados de testes do NHS (National Health Service – Serviço Nacional de Saúde britânico) sejam usados apenas onde forem realmente necessários”. Caso o projecto chegue a bom porto, Claire Guest afirma que a detecção “seria rápida, eficaz e não invasiva”.
Esta crença na capacidade dos cães estende-se ao professor e chefe do departamento de controlo de doenças da London School of Hygiene & Tropical Medicine, James Logan, que recordou os estudos que demonstram que os cães podem detectar o odor da infecção da malária com um nível de precisão “acima dos padrões da Organização Mundial de Saúde para um diagnóstico”.
De acordo com o professor da Universidade de Durham, Steve Lindsay, caso a investigação tenha sucesso, poderão ser usados “cães para detectar a Covid-19 nos aeroportos” e noutros espaços públicos. Tal “ajudaria a evitar que a doença reaparecesse depois de o surto actual ser controlado”, o que, para o professor, será fundamental para ultrapassar este enorme desafio com que a humanidade se confronta.
Num comunicado emitido pelos três organismos que estão a trabalhar neste projecto, foi anunciado que já “começaram os preparativos para treinar intensivamente cães para que estejam prontos no prazo de seis semanas para proporcionar um diagnóstico rápido e não invasivo”. Estes organismos têm estado em permanente contacto com o governo britânico para discutir a melhor forma de tirar o máximo proveito da ajuda preciosa dos nossos companheiros de quatro patas.
Seria bom que as nossas autoridades estivessem atentas ao desenvolvimento deste projecto, apesar de não haver em Portugal uma organização como a Medical Detection Dogs.