Entrevista à uppa
- Tópicos: Adopção, Entrevistas
Fizemos, recentemente, uma parceria com a União para a Protecção dos Animais (UPPA), uma associação sem fins lucrativos que se move pela elevação e responsabilização social da Condição e Direito Animal. Apesar de ter sido fundada a 3 de Dezembro de 2007, apenas em 2013 esta associação construiu o seu próprio albergue, na sequência da cedência de um terreno para esse efeito.
Todos os cães que aqui vêm parar, pelas mais diversas e tristes razões, encontram um lugar seguro e um conjunto de pessoas que lhes dá atenção e carinho. Esperam, sem nunca perder a esperança, encontrar alguém que os adopte e que os receba em sua casa como um membro activo da família. Afinal, aquilo que qualquer cão mais deseja é, simplesmente, fazer parte de uma família.
Para sabermos mais sobre a UPPA e o seu trabalho, fizemos algumas perguntas à Sandra Vicente, membro da direcção desta associação.
1 – No ano de 2014, o número de animais abandonados em Portugal atingiu o pico. Felizmente, a partir de 2015, este número começou a diminuir. A Lei n.º 110/2015, de 26 de Agosto, que estabelece o quadro de penas acessórias aplicáveis aos crimes contra animais de companhia, poderá ter contribuído para esta diminuição que se constata até hoje. Até que ponto a legislação pode contribuir para o combate ao abandono e maus tratos a animais?
Muito sinceramente, não temos notado grande diferença desde que a mencionada Lei entrou em vigor, as pessoas continuam a abandonar e a maltratar animais todos os dias. As pessoas que assistem continuam a ter receio de apresentar queixas ou mesmo “preguiça”. Denotam-se, igualmente, muitas dificuldades na aplicação prática da Lei pois nem todas as situações se enquadram na mesma e as lacunas são muitas. Uma boa legislação pode contribuir e muito para o combate ao abandono e maus tratos aos animais mas por agora sentimos uma premente necessidade de alterar a lei existente para que possa ser mais eficaz!
2 – Que nova legislação poderá ainda ser aprovada para que os animais vejam reconhecida a sua dignidade?
Ainda há muito para fazer nesta área. Step by step chegaremos lá!
3 – Pode contar-nos um episódio que a tenha marcado particularmente ou que transmita a dura realidade com que vocês se confrontam nesta vossa missão?
Por mais que se pense que já vimos de tudo e que nada nos pode surpreender, há sempre alguma situação que nos consegue chocar. Recordo-me de uma situação muito dura para mim e que me marcou bastante. As pessoas habitualmente associam os maus tratos a violência física, contudo, a violência psicológica é muito mais complicada de superar por um cão. Para terem uma ideia, demos um cãozinho com poucos meses em 2012 e passados 3 anos vieram entregá-lo porque roía e estragava a casa… Abandonaram um amigo que viveu com eles 3 anos apenas porque móveis e portas são muito mais importantes para o bem estar desta família.
4 – Quais são as maiores dificuldades com que a UPPA se confronta no seu dia-a-dia?
Dificuldades monetárias. Manter um albergue com 90 cães implica muito dinheiro e a UPPA conta apenas com donativos de particulares para poder dar uma vida digna e de qualidade aos seus residentes até serem adotados. Para terem uma ideia raro é o dia em que um cão não tenha de ir ao veterinário, nem todos chegam em bom estado, outros já são velhotes, outros ficam doentes. Em média nunca gastamos menos de 1000 euros por mês nestas despesas, sem contar com todas as outras que são necessárias para o albergue funcionar.
5 – Para todos aqueles que querem ajudar a UPPA na sua missão, qual a melhor forma de o fazer?
Toda a ajuda é muito bem-vinda e quem queira ajudar pode fazê-lo de várias maneiras, por exemplo, sendo nosso sócio, apadrinhando um cão, sendo voluntários ou adotando. Donativos em géneros e monetários também se agradecem!
6 – Muitas pessoas pensam em adoptar um cão mas nem sempre sabem a melhor forma de o fazer e, não raras vezes, fazem-no sem ter consciência das responsabilidades que ter um cão acarreta. Para estas pessoas, que conselhos e alertas lhes poderá dar?
Adotar é um compromisso para toda a vida, nos bons e nos maus momentos, por isso antes de adotarem um animal as pessoas devem ponderar e refletir sobre a adoção, ou seja, se estão dispostos a receber um cão como um novo membro da família que irá ser amado e cuidado para sempre. Um cão não serve para preencher “buracos” emocionais, nem para satisfazer caprichos, nem tão pouco tem um “on” e um “off”.
7 – Todos aqueles que diariamente vestem a camisola da UPPA e investem grande parte do seu tempo livre a ajudar animais abandonados e maltratados abdicam de muitas coisas em prol desta nobre causa. Sentem que esta é suficientemente reconhecida e compreendida pela sociedade em geral?
O único reconhecimento que queremos é o dos cães e desses temos todos os dias! Em cada olhar, em cada abanar de cauda, em cada passeio, em cada abraço! Todos os dias recebemos muito mais do que aquilo que damos e é muito gratificante vê-los superar os seus medos e recuperar a confiança nos humanos! Os cães, ao contrário de alguns humanos, têm uma capacidade de perdão imensa e um coração muito grande. Um voluntário da UPPA não sente que abdica de muita coisa em prol desta causa, pelo contrário, sente que a sua vida faz muito mais sentido e que cada minuto que dá à causa, cada vida que volta a fazer sorrir vale todo o esforço!
A sociedade em geral atribui muito mais importância a outras causas, muitas vezes perguntam porque não ajudamos crianças ou velhinhos… E a minha resposta é simples, todas as causas são nobres e eu escolhi esta para me dedicar! Normalmente aqueles que desvalorizam as causas a que os outros se dedicam para valorizar outras, sãos os primeiros a não fazer absolutamente nada por nenhuma delas.
8 – Onde vão buscar as forças para, permanentemente, conciliarem a (muitas vezes estafante) vida profissional com a luta por uma causa que é emocional e fisicamente desgastante?
Quando se luta por aquilo em que se acredita, a força cresce todos os dias dentro de nós para tentar fazer mais e melhor. A UPPA é um mundo de alegrias e de tristezas, temos de ser fortes o suficiente para aguentar a pressão diária, mas como já disse cada “sorriso” canino que recebemos daqueles a quem a vida não sorriu, cada adoção bem sucedida, cada foto de família num sofá, motiva-nos a continuar esta missão que abraçámos de coração. O lema da UPPA sempre foi “Chorar é permitido, desistir NÃO!”
Aqui estamos nós com a querida Quinoa, que apadrinhámos!