Basset Hound
Ficha Técnica
História do Basset Hound
Uma raça secular que chamou a atenção de Shakespeare
De linhagem antiga, o Basset Hound foi criado em França, durante a Idade Média. Muitos historiadores defendem a tese de que esta raça foi desenvolvida pelos frades franceses da Abadia de Santo Humberto, responsáveis pela criação do Bloodhound. Pretendendo criar um cão semelhante a esta raça mas que fosse mais pequeno e lento, por forma a que pudesse ser seguido a pé numa caçada (essencialmente de coelhos e lebres) em terrenos caracterizados por florestas com uma densa vegetação, os frades da Abadia de Santo Humberto teriam criado o Basset Hound. Contudo, não existem provas concretas que atestem a veracidade desta tese.
Aquilo que sabemos é que a primeira referência aos cães de tipo “Basset”, palavra que deriva de “bas”, que significa baixo em francês, ocorreu em 1561, num livro ilustrado de... caça chamado “La Venerie”, da autoria de Jacques du Fouilloux. A partir destas ilustrações, podemos constatar que os primeiros Basset Hounds eram muito semelhantes ao Basset Artésien Normand, uma raça conhecida entre os franceses.
A sua morfologia servia aquela que era a sua função. As suas longas orelhas, que se arrastam no chão, ajudam-no a captar os odores, enquanto a pele solta em volta da sua cabeça, que forma algumas rugas, ajuda-o também a capturar ainda mais o cheiro de tudo aquilo que está a rastrear. A sua cauda é erecta e tem uma ponta branca, por forma a que os caçadores o consigam distinguir quando está embrenhado na erva alta.
Até à Revolução Francesa, em 1789, o Basset Hound era um cão ligado à aristocracia, a qual, como amante da caça, apreciava o seu olfacto e a sua persistência absolutamente excepcional. Contudo, após a revolução, que afectou sobremaneira a aristocracia, o Basset Hound foi acolhido por muitas pessoas do povo, que viam nele uma excelente ajuda para a caça a pé, contrariando a desvantagem de não terem posses suficientes para financiar as despesas relacionadas com os cavalos.
Esta raça foi levada para a Grã-Bretanha no século XVII, tendo merecido uma descrição poética por parte de William Shakespeare, no livro A Midsummer Night’s Dream, onde diz que o Basset Hound “possui orelhas que varrem o orvalho da manhã”.
Já no século XVIII, segundo alguns historiadores, o Marquês de La Fayette, um célebre aristocrata e militar francês que combateu na guerra pela independência dos Estados Unidos, ofereceu a George Washington, primeiro presidente daquele país, dois Basset Hounds.
Ao que tudo indica, esta raça apenas ficou conhecida pela generalidade dos franceses a partir de 1863, ano em que ocorreu uma histórica exposição canina em Paris, no “Jardin d’Acclimatation”.
No entanto, o apogeu da sua popularidade dar-se-ia uns anos mais tarde, já no final do século XIX, onde a sua beleza e temperamento suscitavam grandes paixões, principalmente em Inglaterra. O caminho para o estrelato em terras de Sua Majestade começou quando o Lord Galway importou um casal em 1866, que viria a ter uma ninhada de cinco cachorros. Ao ter contacto com estes cães, Sir Everett Millais começou, em 1874, um programa sólido de criação que foi decisivo para a promoção do Basset Hound na Grã-Bretanha. Por este motivo, Millais é visto pelos britânicos como o “pai da raça”.
Quando a rainha Alexandra do Reino Unido (1844-1925) introduziu alguns exemplares nos canis reais, a popularidade da raça cresceu ainda mais.
Já no século XX, mais concretamente no ano de 1928, o Basset Hound alcança também uma enorme popularidade nos Estados Unidos da América. Esta ascensão nas terras do Tio Sam deveu-se a uma publicação da Time Magazine, onde um belo e ternurento exemplar aparecia na capa, deixando os leitores maravilhados. Esta edição da Time Magazine era dedicada à 52ª edição da exposição canina mais conhecida nos Estados Unidos, que se realiza anualmente em Nova Yorque e que é conhecida como Westminster Kennel Club Dog Show.
Com o passar dos tempos, foram sendo criadas algumas tradições nos Estados Unidos em volta do Basset Hound. Nalgumas regiões organizam-se grandes piqueniques que contam com a presença de inúmeros exemplares da raça. Muitas vezes, fazem-se concursos para eleger o rei e a rainha dos Basset Hounds, escolhidos através de critérios estéticos e temperamentais.
Existe também outro evento que ganhou fama e que ficou conhecido como basseting. Este evento, que se realiza principalmente na Virgínia, em Maryland, em New Jersey e na Pensilvânia, caracteriza-se pela organização de grandes caminhadas, onde inúmeros Basset Hounds põem em acção as suas magníficas qualidades olfactivas.
Temperamento do Basset Hound
Tolerante e meigo mas também teimoso
Conhecido pela sua calma, simpatia e sociabilidade, dando-se bem com outros animais e sendo muito tolerante com as crianças, o Basset Hound é um cão meigo para quem não existem estranhos, já que trata qualquer pessoa como um amigo. Esta atitude pacífica com os que o rodeiam, designadamente com outros cães, está bastante relacionada com o facto de ter sido criado para trabalhar em matilha, fazendo com que olhe para os seus semelhantes como potenciais companheiros de uma caçada.
A sua atitude pachorrenta torna-o ideal para viver em apartamento, contudo importa também salientar que por ser teimoso e, até, obstinado, o treino apresenta-se como uma tarefa difícil. Ensinar um Basset Hound a andar bem à trela ou a não ladrar excessivamente, por exemplo, não é tarefa fácil. Mas é fundamental não... perder a paciência e manter um elevado grau de tolerância, tendo sempre presente que os Bassets possuem um natural grau de independência, preferindo explorar o mundo a prestar atenção aos comandos do dono.
Apesar de não ser um cão muito expressivo e que demonstre grandes manifestações de afecto, o Basset Hound não gosta de ficar sozinho, procurando sempre a companhia dos seus donos. Caso fique sozinho por um período longo, poderá tornar-se destrutivo e certamente começará a ladrar e, sobretudo, a uivar, fazendo-se ouvir a longas distâncias. Uma das suas particularidades é precisamente a sua voz única, que se manifesta não só no seu uivo (e latido), como numa espécie de múrmurios que emite quando pretende captar a atenção, muitas vezes com a intenção de convencer os seus donos a darem-lhe um petisco.
Nos momentos dos passeios, que são absolutamente fundamentais para a sua saúde e bem-estar, é preciso ter cuidado para não perder um Basset Hound de vista, uma vez que esta raça tem um olfacto de tal maneira apurado que, de entre todas as raças existentes, é apenas superado pelo do Bloodhound. Por isso, se estiver sem trela e sem ser vigiado, facilmente se afasta e se perde no universo de odores das ruas e jardins de uma cidade, correndo o sério risco de ser atropelado.
Não nos podemos esquecer que o Basset Hound é um sabujo por excelência, sendo um cão desenvolvido para rastrear as presas durante horas a fio. Isto significa que, não sendo um cão explosivo, tem uma resistência formidável, sendo um companheiro perfeito para quem gosta de fazer longas caminhadas.
Para quem a baba é um problema, o Basset Hound já não será um companheiro perfeito, uma vez que tem um tendência acima da média para salivar.
Saúde do Basset Hound
Assim como acontece com o Dachshund (Teckel, segundo a terminologia inglesa), entre outras raças com o dorso muito longo, o Basset Hound pode ter problemas nos discos intervertebrais e, em última instância, desenvolver uma paralisia, pelo que é altamente aconselhável que não suba escadas e que não seja levantado na vertical, devendo-se sempre manter o seu corpo o mais na horizontal possível.
Um problema que afecta principalmente cães pequenos e que pode aparecer nesta raça é a luxação da patela. Este problema, que está presente desde o nascimento, é causado quando o fémur, a patela e a tíbia não estão devidamente alinhados, prejudicando a capacidade de locomoção.
Outro problema da mesma ordem que o anterior é a displasia do quadril. Esta caracteriza-se... por ser uma condição onde o fémur não se encaixa devidamente na articulação do quadril, levando a problemas sérios na capacidade de locomoção. Uma vez que esta patologia é, muitas vezes, de foro hereditário, os exemplares que sofrem deste problema não devem procriar, o que significa que os criadores de Bassets devem dar as garantias suficientes de que os seus cães são saudáveis. Ainda assim, importa ter em consideração de que as lesões causadas por saltos ou quedas podem dar origem à displasia do quadril, não havendo, nestes casos, qualquer motivo hereditário.
O grande apetite dos Bassets em geral, acompanhado da sua atitude passiva, leva a que engordem facilmente, pelo que convém adoptar uma alimentação equilibrada. Caso contrário, irão ficar obesos e, por consequência, desenvolverão problemas nas costas e nas pernas. A obesidade em cães com um dorso longo é especialmente perigosa.
A torção do estômago é um problema muito grave que os pode afectar, uma vez que acontece mais frequentemente em cães com peito profundo, como é o caso dos Bassets. Por isso, deve-se evitar, por um lado, que comam muito de uma só vez, e por outro lado que o façam de forma sôfrega. Deve-se também evitar que bebam muita água e que façam exercício físico após as refeições, uma vez que isso aumenta as probabilidades de a torção do estômago ocorrer. Apesar de haver uma maior ocorrência em cães mais velhos, este problema pode ocorrer em qualquer idade. Caso ocorra, é fundamental que se leve imediatamente o cão ao veterinário, sob o risco de este acabar por morrer.
A Doença de Von Willebrand é um distúrbio hereditário que afecta alguns Bassets. Pode causar um sangramento leve mas, também, um sangramento mais intenso e prolongado. Caso haja algum sintoma deste género, deve-se levar o cão ao veterinário para que sejam feitos exames ao sangue.
No que se refere aos olhos, existem duas doenças a que é preciso estar atento. A primeira é o glaucoma, que se caracteriza por um aumento da pressão sanguínea no interior do olho, que, se não for tratada atempadamente, pode levar à cegueira. Olhos vermelhos, esbugalhados ou lacrimejantes são potenciais sintomas. Neste caso, deve-se levar rapidamente o cão ao veterinário. A segunda doença relaciona-se com desvios nas pálpebras, a que chamamos de ectrópio no caso de resultarem numa córnea seca, e entrópio no caso de resultarem no afundamento dos cílios na superfície do olho. Um veterinário deve saber detectar facilmente este problema e proceder, se necessário, a uma cirurgia.
As alergias também podem afectar os Bassets, sendo despoletadas por uma grande variedade de coisas, como algum ingrediente na alimentação, algum tecido ou alguma superfície com a qual estejam em contacto.
Também as infecções de ouvidos são algo recorrentes. As orelhas compridas, que tocam no chão, fazem com que, por um lado, se acumule muita sujidade, e por outro lado não haja circulação de ar suficiente no canal auricular, o que facilmente leva ao surgimento de infecções. Sendo assim, deve-se proceder regularmente a uma limpeza de ouvidos e estar atento a potenciais sinais de infecção.
Finalmente, dado o tamanho das orelhas, é importante mantê-las limpas para evitar potenciais infecções, sendo também importante limpar a região dos olhos e as rugas da pele.
Aparência Física do Basset Hound
- Pálpebras descaídas
- Cabeça grande e comprida
- Orelhas longas e de inserção baixa
- Pernas curtas
- Tronco comprido
- A cauda grossa mantém uma ligeira curvatura
Características
Curiosidades do Basset Hound
O Basset Hound entrou na cultura pop nos anos sessenta por ter sido escolhido como a imagem de marca da internacionalmente conhecida fabricante de calçado Hush Puppies.
A banda desenhada Fred Basset, onde o protagonista é precisamente um Basset Hound, foi também lançada nos anos sessenta e acabou por dar mais um contributo para a popularização da raça.