Barbado da Terceira
Ficha Técnica
História do Barbado da Terceira
O pastor açoriano
No início do povoamento do arquipélago dos Açores, durante o século XV, a pecuária ganhou, desde logo, bastante importância na economia local. Não admira, portanto, que tivessem sido levados para o arquipélago vários cães pastor, não só de Portugal mas também de outros países, uma vez que pessoas de muitas nacionalidades europeias, como espanhóis, franceses, belgas, holandeses ou ingleses, escolheram os Açores para viver ou para passarem grandes temporadas, uma vez que os Açores sempre funcionaram como uma espécie de porto seguro no meio do Atlântico. .
As origens do Barbado virão, certamente, desta mistura de cães pastor, sendo que muitos eram cães boieiros, o que significa que eram utilizados no maneio de gado bovino.
Estes cães, ao adaptarem-se na perfeição ao clima da Ilha Terceira e ao viverem num lugar particularmente... isolado, desenvolveram um conjunto de apetências de pastoreio muito apreciadas pelos locais. Os cães que mordiam baixo (na zona da quartela) eram seleccionados para trabalhar com as vacas de leite, os que mordiam alto (na zona do curvilhão ou acima) eram seleccionados para trabalhar com o gado bravo.
Interessa, ainda, referir que possivelmente o Cão de Água Português, que tantas vezes acompanhava os marinheiros portugueses nas suas incursões no Atlântico, pode também ter participado no desenvolvimento do Barbado da Terceira. Se o Cão de Água Espanhol foi utilizado não só como cão de água mas também como cão de pastoreio, porque razão o Cão de Água Português não poderia dar da mesma forma algum contributo para o pastoreio?
A partir da década de setenta do século passado, os terceirenses passaram a dar maior importância ao Barbado. Ainda assim, foi preciso esperar até 1996 para que fosse publicado um estudo, da autoria do Dr. Deocleciano Silva, sobre as origens, o desenvolvimento e o número de exemplares da raça. Vários investigadores procuraram aprofundar este estudo e criaram a Associação Açoriana de Criadores do Cão Barbado da Terceira. Coube ao Dr. Artur Machado, após um longo trabalho de investigação, concluir que existiam 80 cães que possuíam variadíssimas características comuns, inclusivamente genéticas, e que, por isso, representavam uma raça.
Em 1998, como o apoio do Departamento de Ciências Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores, foi apresentado o primeiro trabalho científico sobre a morfologia da raça, da autoria do Eng. André Oliveira. A este trabalho, sucederam-se outros de análise biométrica e genética.
Reconhecido pelo Clube Português de Canicultura (CPC) desde 2004, tendo sido a décima raça portuguesa a merecer esta distinção, bem como pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, o Barbado da Terceira continua a exercer as suas funções de condutor de gado. Apesar de ser essencialmente um cão boieiro, tem vindo também a ser usado para trabalhar com gado ovino e caprino, precisando para isso de um pastor experiente que consiga fazer com que a sua abordagem seja mais suave.
Outra função que o Barbado da Terceira cumpre eficazmente é a de cão de guarda. Mas a melhor notícia para a raça é o facto de ser cada vez mais estimada como cão de companhia, estando em franco crescimento em Portugal.
Temperamento do Barbado da Terceira
Tudo pelo dono, nada contra o dono
Extremamente ligado ao seu dono, o Barbado da Terceira não é um cão de ficar parado o dia todo, precisando de ser suficientemente bem estimulado física e psicologicamente. A sua permanente vontade de seguir o dono para todo o lado torna-o num cão inconveniente para pessoas que passam muito tempo fora de casa.
É um excelente cão de família, mostrando-se afável com todos à sua volta, ainda que escolha um membro da família como seu principal dono, estando sempre atento a tudo o que este faz.
Contudo, perante presenças estranhas, como acontece com muitos cães pastor, é desconfiado, o que o leva a ser usado como cão de guarda. O seu aspecto de urso de peluche esconde uma personalidade forte e uma atitude voluntariosa, o que não surpreende pelo facto de trabalhar... com gado bovino.
Para que tenhamos um Barbado equilibrado e sociável no relacionamento com outros cães, é crucial que se faça uma socialização desde tenra idade. Se não se fizer isto, muito provavelmente será hostil à presença de outros patudos.
A sua vontade de interagir com a família aliada à sua inteligência dão-lhe uma considerável capacidade de aprendizagem. Contudo, importa que o seu dono tenha a experiência suficiente para educar um cão fisicamente forte e temperamentalmente intenso.
Apesar de ser ainda muito utilizada para o trabalho, o facto de se conseguir adaptar à vida num apartamento e de ser um excelente cão de companhia, faz com que existam cada vez mais exemplares a viverem em cidades. Em consequência disto, existe, felizmente, um número crescente de barbados sem as orelhas cortadas, como é tradição fazer-se no mundo rural, inclusivamente com o vizinho Fila de São Miguel.
Todavia, a grande maioria dos exemplares de ambas as raças continua a ter a cauda cortada, uma vez que esta amputação é feita pelos criadores logo após o nascimento.
Saúde do Barbado da Terceira
Como acontece com as raças rústicas, o Barbado da Terceira é um cão genericamente saudável. Ainda assim, pelo facto de ser uma raça de médio/grande porte, pode desenvolver displasia da anca, pelo que é necessário fazer o despiste da doença. A displasia da anca é uma doença que se caracteriza pela formação anormal da articulação coxofemoral.
Os cuidados com a pelagem são bastante importantes. Uma vez que larga muito pouco pêlo, não fazendo a muda entre as estações do ano, é um óptimo cão para pessoas com alergias. Mas para que a pelagem se mantenha saudável, é particularmente importante remover o pêlo morto. Caso não seja escovada regularmente, o isolamento térmico será afectado e poderão formar-se grandes nós e rastas que, para além de trazerem desconforto para os cães, poderão originar problemas dermatológicos.
Durante o Verão, o Barbado deve ser tosquiado. No restante ano, conquanto tenha uma escovagem regular, não necessita de o ser. O tipo de pêlo que o Barbado possui permite-lhe adaptar-se bem ao frio e ao calor. Esta característica foi desenvolvida durante a adaptação ao clima insular.
Para o bem-estar físico e mental do Barbado da Terceira, é importante proporcionar-lhe actividade física frequentemente.
Aparência Física Barbado da Terceira
- Cabeça forte, sólida e proporcional ao corpo
- Garrote largo
- Dorso largo, flexível e bem musculado
- Peito largo e profundo
- Membros posteriores compridos e robustos
- Patas grandes e ovais, e almofadas grossas
Características
Curiosidades do Barbado da Terceira
Historicamente, os exemplares com pelagem branca à volta do pescoço, chamados “encoleirados”, e de “frente aberta”, o que significa que têm uma mancha de pêlo branco na cabeça e no chanfro, eram os preferidos para o trabalho no campo.
Nota: Todas as fotografias expostas do Barbado da Terceira foram gentilmente cedidas pelo Clube Português do Barbado da Terceira e respectivos sócios.